Damos-lhe 6 dicas para optimizarem a vossa fertilidade natural e, saudavelmente, chegarem ao vosso esperado “POSITIVO”!
As recomendações abaixo descritas são o resumo de um consenso de especialistas, do Comité de Prática da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva e Comité de Prática da Sociedade de Endocrinologia Reprodutiva e Infertilidade para aconselhar homens e mulheres a otimizar a probabilidade de conseguirem engravidar de forma natural, quando não há história de infertilidade ou razão para questionar sobre a sua fertilidade potencial.
Fertilidade e Idade
Comecemos por definir alguns conceitos como fertilidade, fecundabilidade mensal e infertilidade. Se por um lado a fecundidade consiste na capacidade de conceber um filho, a infertilidade consiste na incapacidade de alcançar uma gravidez bem-sucedida após 12 meses (ou 6 meses sem concepção em mulheres com idade superior a 35 anos) de relações sexuais vaginais desprotegidas regulares. A fecundabilidade mensal é a probabilidade de engravidar por mês.
Estudos demonstram que a probabilidade concecional geralmente é mais elevada nos 3 primeiros meses de relações sexuais desprotegidas e que diminui a partir daí, embora aproximadamente 80% dos casais engravidem nos primeiros seis meses de tentativas. O pico da fecundidade feminina é entre os 20-30 anos e diminui para metade aos 40 anos da mulher. Embora no homem os parâmetros do espermograma também sofram alterações visíveis após os 35 anos, a fertilidade masculina não parece ser afetada antes dos 50 anos.
A idade avançada da mulher não só compromete a sua fertilidade como corresponde a um aumento do risco de aneuploidias (um tipo de anomalia cromossómica que altera a quantidade normal dos cromossomas e pode, ou não, trazer complicações para saúde do bebé) e aborto espontâneo. Em jeito de curiosidade segundo o relatório de 2018-2019 referente ao Registo Nacional de Anomalias Congénitas (RNAC) em Portugal, a percentagem mais elevada de nascimentos com anomalias congénitas (AC) (anomalias físicas que ocorrem durante o desenvolvimento fetal que podem ser evidentes antes do bebé nascer ou durante o seu primeiro ano de vida) ocorreu em mulheres com idades entre os 30-34 anos e os 35–39 anos (28,1% e 28,0% respetivamente) o que corresponde, segundo os dados do INE para 2018 e 2019, aos intervalos de idades em que ocorreu a maioria dos nascimentos em Portugal. Em 13,3% dos casos de AC reportados, as mulheres tinham idade igual ou superior a 40 anos na altura do parto.
A reserva ovárica (quantidade de óvulos disponíveis num determinado momento da vida da mulher) também diminui com o aumento da idade, mas é um fraco indicador de fecundidade em mulheres não inférteis.
“Janela Fértil”
A “janela fértil” é o período que compreende os 6 dias que antecedem o dia da ovulação, terminando neste. Teoricamente o pico de fecundabilidade foi observada num estudo realizado, quando a relação sexual ocorreu nos dois dias antes da ovulação. Outro estudo revelou ainda que a probabilidade de engravidar foi maior quando a relação sexual aconteceu nos dois dias antes da ovulação, diminuindo a fecundabilidade a partir daí. Embora se julgue que a idade não afeta o ciclo menstrual ou o tempo de janela fértil em relação à ovulação, a probabilidade de sucesso diminui com o aumento da idade.
Calculadora de Janela Fértil
Frequência das relações sexuais
Um estudo retrospetivo que analisou quase 10.000 amostras de sémen comprovou que a qualidade, concentração e motilidade dos espermatozoides permaneceram normais, mesmo com ejaculação diária. Surpreendentemente, em homens com oligospermia (quando a contagem de espermatozoides é inferior a 15 milhões/ml, valor médio segundo a OMS), a concentração de esperma e a motilidade dos espermatozoides pode aumentar com a ejaculação diária. Intervalos de abstinência superiores a 10 dias ou mais, podem contribuir para a deterioração da morfologia dos espermatozóides.
Apesar das evidências sugerirem que a relação sexual deva ser diária na janela fértil da mulher, esta premissa pode induzir stress desnecessário no casal. No entanto, lembre-se que a frequência das relações sexuais contribuem para a competência reprodutiva, e a fecundabilidade é maior quando estas ocorrem a cada 1-2 dias durante a janela fértil. Mas, acima de tudo tenha em conta a preferência pessoal e no contexto do casal.
Métodos de fertilidade consciente
O período de “janela fértil” pode variar consideravelmente, mesmo em mulheres com ciclos regulares. A utilização de métodos de controlo de fertilidade, também denominados por métodos naturais de fertilidade, para detetar o período de “janela fértil” e a altura ideal para ter relações sexuais, está associado ao aumento da probabilidade de engravidar num ciclo ovulatório. Estes métodos consistem no método do calendário (duração do ciclo menstrual, em que a fase lútea, fase após a ovulação, é aproximadamente 14 dias), monitorização das características do muco cervical, dispositivos de deteção da ovulação e temperatura corporal.
O método do calendário tem sido utilizado pelos programas de software, como as Apps, para auxiliarem na previsão do período fértil, contudo têm revelado ser ardilosos uma vez que partem do pressuposto que o tempo e “janela fértil” são consistentes, embora se saiba que os ciclos são muito variáveis.
Os dispositivos de deteção da ovulação através da monitorização da excreção urinária de LH (hormona luteinizante, responsável pelo amadurecimento dos folículos, ovulação e produção de progesterona) permitem determinar o dia da ovulação. Outros são utilizados para conhecer dias de elevada probabilidade de engravidar mas não o pico de fertilidade, através da deteção de estrona-3-glucuronídeo (E1G) na urina. Embora apresentem grande precisão na deteção destas hormonas, há uma probabilidade de falsos positivos ocorrerem em cerca de 7% dos ciclos. Estudos comprovaram a sua eficácia na diminuição do tempo para engravidar.
A avaliação das características do muco cervical (líquido produzido no colo do útero que desempenha funções muito importantes na reprodução – facilitam a passagem dos espermatozoides para a cavidade uterina, nutrem-nos e ainda podem ajudar a lubrificar a vagina), fornece uma económica e privada forma de detetar o período de ovulação. A probabilidade de engravidar é maior quando o muco é viscoso e claro. O seu volume está dependente das concentrações plasmáticas de estrogénio, que estarão mais elevadas 5-6 dias antes da ovulação e atingem o seu pico dentro de 2-3 dias antes da ovulação. As taxas de gravidez foram mais elevadas (38%) quando a relação sexual ocorreu no pico do muco e, sensivelmente mais baixas (15% a 20%) quando realizadas no dia a seguir a este. Como forma de aumentar a hipótese de engravidar, este método associado ao da avaliação da temperatura corporal basal permite avaliar o pico de fertilidade com maior precisão do que o calendário menstrual.
Estes métodos permitem ter maior consciência do seu ciclo menstrual, sendo ótimos facilitadores na definição da “janela fértil”, no entanto, existem testemunhos que consideram que estes induzem um stress acrescido e, consequentemente, reduzem o apetite sexual, a satisfação e a frequência das relações sexuais. Ao optar por estes métodos evite reduzir a frequência das relações sexuais, estas devem manter-se diárias ou de 2/2 dias, durante a “janela fértil”.
Posicionamento durante o coito
Há muito se falava que após o ato-sexual a mulher deveria permanecer em decúbito dorsal (deitada de costas) por um período de tempo para facilitar o transporte do esperma até ao óvulo, contudo tal recomendação não passa de uma crença sem fundamentação científica. Saiba que em 15 minutos os espermatozóides depositados no colo uterino durante o ciclo menstrual, são encontrados nas trompas de Falópio, sendo expelidos na cavidade peritoneal em vez de se acumularem nessa zona. Estudos indicam que durante a fase folicular (fase em que menstrua) o transporte dos espermatozóides até às trompas deu-se em apenas 2 minutos. Destes estudos foi interessante observar que há preferência dos espermatozóides pela trompa cujo ovário contém o folículo dominante (folículo que concluiu o processo de desenvolvimento e amadurecimento e rompe libertando o óvulo maduro que estará preparado para ser fecundado), e não no contra lateral.
A posição que optar por ter relações sexuais não parece afetar a fecundabilidade. Os espermatozoides podem ser encontrados no canal cervical segundos após a ejaculação, depois é uma questão de (pouco) tempo para chegar até ao óvulo. Apesar de o orgasmo feminino promover o transporte do esperma, não é conhecida relação entre o orgasmo feminino e a fertilidade, nem em relação à posição adotada e o sexo do bebé.
Relativamente à utilização de lubrificantes, embora se reconheçam efeitos adversos nos parâmetros espermáticos in vitro, durante a tentativa de conceção em casal, não parece afetar a fecundabilidade do ciclo em comparação com a não utilização.
Dieta e estilo de vida
Há uma diminuição das taxas de fertilidade em mulheres muito magras e obesas. Quanto à ingestão de alguns alimentos, estes podem estar associados ao aumento da infertilidade, como no caso dos elevados níveis de mercúrio existente nos frutos-do-mar (pescado – tubarão, cação, tintureira, peixe-espada, cavala e peixe-batata; molúsculos e bivalves).
Na consulta pré-concecional será recomendada a suplementação de 400 µg/ dia de ácido fólico (vitamina do complexo B também conhecida como vitamina B9), para reduzir o risco de defeitos do tubo neural do feto, que deverá ser mantido até ao final do 1º trimestre da gravidez. Segundo o relatório de 2018-2019 referente ao RNAC em Portugal, apenas 18% das mulheres, a quem os bebés foram diagnosticados com alguma alteração cromossómica, iniciou a toma de ácido fólico antes da gravidez.
Existem inúmeras dietas que prometem promover a fertilidade, no entanto, faltam dados consistentes que comprovem a sua real eficácia. Por esse motivo optámos por não abordar aqui nenhum em especial para não os confundir, mas que poderão aceder facilmente aos estudos que deram suporte ao artigo. Contudo, alguns investigadores do comité sugeriram que além de uma dieta variada, a ingestão de micronutrientes individuais e macronutrientes, como multivitaminas, ácido fólico (levedura de cerveja, quiabo cozido, feijão-preto cozido, espinafre cozido, soja verde cozida, macarrão cozido, amendoim torrado sem sal, beterraba crua, fígado de boi grelhado, fígado de galinha grelhado, nozes, avelãs, couve de Bruxelas cozida, espargos, castanha de caju, semente de girassol, paté de fígado de galinha, feijão-frade cozido, rúcula, milho cozido); ácidos gordos da série ómega 3 de cadeia longa (salmão, atum, cavala, arenque, dourada, sável, chicharro, congro, sardinha, enguia, óleo de fígado de bacalhau, caranguejo, camarão, algas, óleo de canola, linho, linhaça, nozes, chia, espinafres, beldroegas, espinafres, alho-francês, couves de folha verde escura, cogumelos, brócolos); gorduras de laticínios integrais, grãos integrais, vegetais, peixe e isoflavonas de soja, podem ter efeitos benéficos sobre a fertilidade. Por outro lado os ácidos gordos trans (óleo de coco, creme de leite, leite integral, banha, toucinho, manteiga, queijos, carnes vermelhas, chocolate), carne e hidratos de carbono de absorção rápida (massas, arroz branco, batata, pão branco e açúcar), foram relacionados a desfechos à diminuição da fertilidade.
Faltam evidências que suportem que intervenções dietéticas e de estilo de vida melhoram a fertilidade natural, apesar de ser unânime a premissa de que a adoção de uma alimentação e estilos de vida saudáveis permitem melhorar a sua saúde em geral.
FUMAR
São conhecidos os efeitos adversos na mulher fumadora no que diz respeito à sua fertilidade. As mulheres fumadoras são significativamente mais propensas a ser inférteis e a entrar na menopausa 4 anos mais cedo do que as não fumadoras. O consumo tabágico está associando à aceleração da taxa de depleção folicular, embora estudos histológicos não confirmem essa relação. Existe também uma associação entre mulheres fumadoras e um risco aumentado de aborto espontâneo, tanto em gravidezes espontâneas como em mulheres submetidas a tratamentos de infertilidade. Nos homens fumadores, é observada a diminuição da densidade, motilidade e anormalidades morfológicas espermáticas, contudo não é conclusivo que diminua a fertilidade masculina.
ÁLCOOL
A associação entre o consumo de álcool e a fertilidade feminina não foi claramente estabelecida. Se por um lado alguns estudos concluíram que o álcool tem um efeito pejorativo sobre a fertilidade, outros sugerem que o seu consumo moderado pode contribuir positivamente para esta. No entanto o consumo excessivo de álcool revelou ser negativo quanto à fertilidade. Importa realçar que quando souber que está grávida o consumo de álcool deve ser completamente cessado, visto que os efeitos prejudiciais no desenvolvimento fetal estão bem documentados e nenhuma quantidade será considerada segura.
O consumo crónico de álcool pelos homens, está associado à diminuição da contagem, motilidade e morfologia dos espermatozóides, à diminuição do volume de fluido seminal e dos níveis séricos de testosterona, além contribuir para a disfunção ejaculatória. Nas mulheres está associada à diminuição do desejo sexual, dispareunia (dor ou desconforto que surge durante ou depois o ato sexual) e secura vaginal.
CAFEÍNA
O consumo de cerca de 500mg de cafeína (>5 xícaras de café por dia ou equivalente) foram associados à diminuição da fertilidade. Durante a gravidez o consumo de 2-3 xícaras de café por dia (cerca de 200-300mg de cafeína) pode aumentar o risco de aborto espontâneo embora não esteja relacionado com anomalias fetais. O consumo moderado de cafeína (1-2 xícaras de café por dia ou equivalente) antes ou durante a gravidez não parece apresentar efeitos adversos nem na fertilidade, nem na gravidez.
No homem, o consumo de cafeína não parece afetar os parâmetros espermáticos.
CANÁBIS E OUTRAS DROGAS REGREATIVAS
O consumo de canábis por mulheres ovulatórias revelou potenciar a sua infertilidade e nos homens houve uma diminuição da quantidade de sémen (menos 29%), do que em homens que não fumaram canábis, além de diminuir a motilidade espermática e reacções acrossómicas (libertação de enzimas hidrolíticas presentes no acrossoma do espermatozoide que degradam a zona pelúcida do oócito e permite a fusão das membranas do espermatozoide e oócito), dificultando a fertilização.
O Colégio Americano de Obstetras e Ginecologia (ACOG) recomenda que a mulher grávida ou a pensar em engravidar deva cessar o consumo de canábis, pelos efeitos adversos do consumo tabágico e do risco do neurodesenvolvimento fetal. Qualquer droga recreativa deve ser desencorajada por homens e mulheres que desejam engravidar pelos riscos que podem ocorrer na gravidez, bem como, complicações neonatais.
EXPOSIÇÕES AMBIENTAIS
Tem havido um crescente investimento na avaliação da exposição de alguns produtos químicos ambientais sintéticos e naturais, nos alimentos, água, ar e produtos de consumo devido ao seu contributo para a redução da fertilidade feminina e masculina. Têm principal destaque os produtos desreguladores endócrinos (como ftalatos, bisfenol A e triclosan) que causam efeitos adversos na saúde, apesar de não parecer estar associados ao tempo para engravidar. Contudo, uma revisão sistemática da literatura revelou que a exposição persistente de poluentes orgânicos (bifenilos policlorados, éteres difenílicos polibromados e substâncias per e polifluoroalquil) têm um impacto negativo na fecundabilidade dos casais e no período gravídico. No geral, homens e mulheres em idade reprodutiva devem evitar a exposição a desreguladores endócrinos produtos químicos em alimentos, ar, água e produtos de higiene pessoal.
Existe uma grande preocupação quanto à poluição do ar uma vez que tem sido associada a taxas de fertilidade mais baixas e aumento do tempo até engravidarem, principalmente na Europa, Estados Unidos e China, com mais impacto nos casais que residem mais perto das principais rodovias. As mulheres mais expostas na fase pré-concepcional e no início da gravidez a dióxidos de nitrogénio e partículas finas, nomeadamente as que vivem perto de uma grande estrada, demonstraram ter fecundabilidade diminuída e maior risco de aborto espontâneo em comparação com as mulheres menos expostas. Também são conhecidas alterações ao nível nos parâmetros espermáticos nos homens sujeitos à exposição da poluição do ar, tais como fragmentação do DNA e aneuploidias, menor morfologia e motilidade espermática, e ainda alteração ao nível das hormonas reprodutivas. Resta determinar se os efeitos da poluição do ar sobre os parâmetros espermáticos se traduzem em efeitos sobre a fertilidade dos casais.
Caso deseje conhecer a base científica que suporta estas recomendações, aceda ao documento original. Para facilitarmos a sua leitura tomámos a liberdade de sintetizá-lo e complementámos com pormenores que acreditamos ser fundamentais para uma leitura aplicada na prática.
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- Nené M, Marques R, Batista MA. Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica. Lidel, editor. Lousã 2016.
- DGS. Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco. Lisboa 2015.
- DGS. Promoção da Saúde Mental na Gravidez e Primeira Infância – Manual de orientação para profissionais de saúde. 2005.
- Graça LMd. Medicina Materno Fetal Lidel, editor. Lisboa 2017.
- Optimizing natural fertility: a committee opinion. Fertil Steril. 2022;117(1):53-63.