Ponderam engravidar? O nosso lado maternal leva-nos a festejar convosco e por isso aconselhamos que realize uma consulta pré-concepcional antes do tão esperado bebé.
Espera-se que este plano seja encarado como um projeto familiar, em que cada elemento desempenha um papel crucial no bem-estar da mãe e do bebé. Preparar uma gravidez impõe a realização de uma consulta pré-concecional, ainda antes de suspender o método contracetivo adotado em casal e outra, logo após a realização dos exames recomendados, para respetiva avaliação. Este passo é fundamental para se detetar fatores que possam condicionar, de forma negativa, o futuro de uma gestação com o intuito de minimizar, ou eliminar, os riscos associados. Esta avaliação prévia será essencial dado que, o desenvolvimento dos principais órgãos do bebé ocorre nas primeiras 8 semanas de gestação, e a sua fase de maior sensibilidade ambiental ser entre o 17.º e o 56.º dia após a fecundação, antes mesmo de saber que está grávida, ou ter tido a oportunidade de iniciar os cuidados pré-natais.
Adotar comportamentos e estilos de vida saudáveis aumentam a hipótese de obterem uma gravidez e bebés sadios.
Na consulta pré-concepcional saibam:
- o que esperar durante um exame pré-concecional;
- quais as melhores escolhas para poderem adotar por um estilo de vida mais saudável e, ainda
- como abordar questões de saúde, antes da gravidez, com o seu profissional de saúde.
Sugerimos algumas perguntas que lhe poderão fazer, para poderem tomar as vossas decisões de forma informada. Dar-lhe-emos, também, dicas sobre onde procurar algum conhecimento fidedigno e mais atual.
1ª Questão: Como está a nossa saúde (casal?)
Sejam honestos ao relatar os vossos antecedentes pessoais (inclusive cirurgias prévias), obstétricos (gestações anteriores, que inclui perdas gestacionais) e familiares, tais como: medicação que tomam e hábitos de vida (alimentação e comportamentos aditivos). Estes dados serão fundamentais para fazer a vossa história clínica, em associação com os resultados laboratoriais (determinação do grupo sanguíneo e factor Rh, rastreio das hemoglobinopatias, rastreio da toxoplasmose, sífilis, infeção por VIH e por Citomegalovírus (CMV) na mulher e no companheiro, deverá ser feito o rastreio da sífilis, do VIH e da hepatite B), ecográficos (ecografia mamária, que pode ser substituída por palpação -, e ginecológica), citologia cervicovaginal e outros exames que o médico considere relevantes para avaliar o vosso estado de saúde.
Existem assuntos que podem não ser abordados mas que são fundamentais para determinar a forma como iniciarão esta nova fase da vida, como o padrão de sono; tipo de alimentação; trânsito intestinal; saúde urovaginal/testicular; hidratação; saúde mental e stress. Não desvalorize queixas.
2ª Questão: Quanto tempo podemos levar a engravidar?
Não espere uma data exata do grande acontecimento do ano. Mas, de acordo com a vossa história clínica, idade e tentativas anteriores para engravidar, o profissional de saúde poderá ajudá-los a gerir expectativas. Contudo, saiba que a fecundabilidade (probabilidade de alcançar uma gravidez num único ciclo menstrual) está intimamente ligada à idade da mulher (declínio acentuado após os 35-37 anos) e do homem (a partir dos 50 anos), assim como ao stress, tabaco, obesidade, baixo peso, doenças sexualmente transmissíveis entre outros fatores ambientais. Além da idade materna avançada estar relacionada com uma menor probabilidade de engravidar, também está associada a um aumento do risco de aneuploidias fetais (alteração/malformação cromossómica) e aborto espontâneo.
3ª Questão: Existe algum problema de saúde que nos possa afetar a fertilidade?
Infelizmente existem e os exames que irá realizar serão fundamentais para a sua deteção, controlo/tratamento. São exemplos nas mulheres, endometriose, síndrome do ovário poliquístico e alguns distúrbios da tiróide, já nos homens, a qualidade e quantidade do esperma podem tornar a conceção mais difícil, daí a importância de este ser incluído na consulta pré-concecional.
4ª Questão: Devo iniciar algum tipo de vitaminas ou suplementação?
Sim. Deverá iniciar a suplementação com uma dose diária de ácido fólico para reduzir o risco de defeitos no tubo neural do bebé. Pode ser recomendado também, o aumento do aporte em iodo, embora não seja consensual pela classe médica.
5ª Questão: Devo deixar de tomar algum medicamento?
Vai depender do medicamento e do objetivo. Talvez terá que substituir, reduzir ou parar algum dos que já toma, uma vez que existem medicamentos que podem diminuir a probabilidade de engravidar ou de ter um bebé saudável. No entanto, essa decisão deverá ser exclusivamente médica. A automedicação é desaconselhada em qualquer altura, contudo se desejar confirmar sobre a compatibilidade de algum medicamento ou substância (ex. tipo de chá) com a gravidez ou amamentação, aceda um dos links: www.e-lactancia.com ou https://www.drugs.com/pregnancy/.
6ª Questão: Devo adotar novas rotinas alimentares e de exercício?
Sim, o ideal será adotar rotinas saudáveis, como praticar exercício físico (sem excessos) e abandonar hábitos nocivos, como fumar e consumir bebidas alcoólicas. As 10 recomendações para uma alimentação saudável e segura na gravidez da DGS poderá ser um excelente guia para cuidar de si, antes e durante a gravidez e, ainda, no pós-parto.
7ª Questão: O meu plano de vacinação está completo?
O ideal será atualizá-lo antes de engravidar, uma vez que existem vacinas cuja administração são contraindicadas na gravidez. No entanto, independentemente de ter o plano atualizado, será aconselhada a administração da vacina combinada contra a tosse convulsa, tétano, e difteria, em doses reduzidas (Tdpa), entre as 20-36º semanas de gestação (após a realização da ecografia morfológica) usufruindo da passagem transplacentária de anticorpos de si para o seu bebé, conferindo-lhe proteção passiva até ao início da vacinação deste (aos 2 meses de vida).
8ª Questão: E quando der positivo, o que devo fazer?
Assim que um teste de gravidez der positivo deverá procurar assistência médica, para que possa confirmar o diagnóstico e dar início aos cuidados pré-natais.
Somos os únicos responsáveis pela nossa saúde e livres nas escolhas que fazemos, por isso comprometa-se e cuide de si. Informe-se e procure uma segunda, ou terceira opinião quando a primeira não tiver ido ao encontro dos ideais que defende ou, se após a consulta, tiver ficado com dúvidas.
- Nené M, Marques R, Batista MA. Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica. Lidel, editor. Lousã2016.
- DGS. Programa Nacional para a Vigilância da Gravidez de Baixo Risco. Lisboa 2015.
- DGS. Promoção da Saúde Mental na Gravidez e Primeira Infância – Manual de orientação para profissionais de saúde. 2005.
- Graça LMd. Medicina Materno Fetal Lidel, editor. Lisboa 2017.