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Na cultura ocidental o destino dado ao órgão temporário que permite que o seu bebé se desenvolva e cresça dentro de si, reflete uma profunda desconsideração pelo enorme simbolismo que a placenta representa. No presente artigo pretendemos oferecer-lhe as diversas alternativas que lhe pode dar, homenageando-a tal como merece. Vamos “Dar vida à vida… Uma nova função para a placenta”.

Função da Placenta

A placenta é um órgão temporário que se forma nas primeiras semanas da gravidez nos mamíferos, que ao se fixar à parede uterina servirá de conexão entre a mãe e o bebé. Esta é morfológica, bioquímica e funcionalmente uma unidade biológica bem definida e eficiente que exerce, durante a gestação, funções similares à dos rins, fígado, pulmões e glândulas endócrinas. A placenta é fundamental para o desenvolvimento do feto, sendo por vezes a principal responsável pela ocorrência de muitos dos problemas fetais identificados.

Após o parto, a placenta é expulsa (dequitadura), pois terminou a sua função de manutenção do crescimento e desenvolvimento do seu bebé. Além de ser considerada um resíduo biológico a ser descartado de forma segura e, do ponto de vista ético ser-lhe dada pouca atenção, esta reveste-se de uma dimensão simbólica que explica diversas crenças e práticas culturais, ao ser considerado que a sua função transcende a sua essência biológica.

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Fig.1. Placenta, a “Árvore da Vida”.

Enquadramento Legal do descarte da placenta

O destino da placenta, em meio hospitalar, está enquadrado no regime geral da gestão de resíduos do Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de junho. De acordo com a Lista Europeia de Resíduos (LER) publicada na Decisão 2014/955/UE22, o descarte da placenta integra-se no Grupo IV, definido no Despacho nº 242/96, de 13 de agosto, como sendo um resíduo perigoso e de incineração obrigatória, contrariamente ao disposto na legislação comunitária. No plano internacional, as Recomendações da Organização Mundial de Saúde para o nascimento realça que deve ser preservado o direito das mulheres poderem parir em instituições, de decidir sobre a sua roupa e a do bebé, sobre a alimentação, o destino da placenta, e outras práticas culturalmente significantes para a própria.

Sendo a placenta constituída, basicamente, por células embrionárias fetais nada obsta, legalmente, que esta seja entregue aos representantes legais do bebé, que por decisão própria assumam o desfecho que lhe pretendem dar, desde que razões de saúde pública não obriguem a dar-lhe um destino concreto (ex. caso de anomalia placentar, fetal ou cariz infecioso).

Em Portugal existe um termo de responsabilidade, que deverá assinar, para poder levar a sua placenta para casa após o parto. Esse termo é conhecido como “Termo de Responsabilidade para a Conservação e Transporte da Placenta” e é disponibilizado pela instituição de saúde onde o parto ocorrerá. Ao assinar este termo, assume a responsabilidade pela conservação e transporte adequados da placenta, bem como pelo seu descarte apropriado, se necessário. É importante, acima de tudo, que esteja informada sobre os cuidados necessários para a conservação e transporte da placenta, de modo a garantir a sua segurança e a do seu bebé.

O potencial bioquímico da placenta tem sido aproveitado pela medicina devido às variadas composições estruturais dos tecidos que a compõem, cuja gama de configurações se adequam a diversas aplicações terapêuticas e regenerativas, a serem exploradas. Contudo, outros fins têm sido dados à placenta, o seu enterramento, a colocação intencional/eliminação num local específico, a suspensão ou colocação numa árvore/estrutura e, ainda a placentofagia.

A placentofagia é a prática de comer a placenta após o parto, existindo várias formas de o fazer. Desde o seu consumo cru, cozido, em cápsulas, em smoothies, em sopas e, ainda em chás. Algumas pessoas também aplicam a placenta na própria pele ou usam o sangue da mesma para criar pinturas – “Placenta Print”.

A placentofagia tem sido praticada em muitas culturas ao redor do mundo há milhares de anos. Acredita-se que a sua ingestão pode ajudar a aumentar a produção de leite materno, melhorar a recuperação após o parto, equilibrar as hormonas e ajudar a prevenir a depressão pós-parto. No entanto, não há evidências científicas sólidas que comprovem esses benefícios. A maioria das pesquisas sobre a placentofagia é baseada em estudos observacionais ou relatos de casos, o que significa que é difícil determinar se os resultados positivos são realmente devido ao consumo da placenta ou a outros fatores. Contudo, existem riscos potenciais associados à placentofagia. A placenta pode estar contaminada com bactérias e vírus prejudiciais, como o Streptococcus do grupo B, ou SGB (normalmente encontrada no trato gastrointestinal e genital feminino, embora a mulher possa ser assintomática), que pode levar a infeções graves em mães e bebés. Alerta-se que os recém-nascidos são especialmente vulneráveis à infeção por esta bactéria uma vez que o seu sistema imunitário não está, ainda, completamente desenvolvido. Os sintomas de uma infeção neonatal por SGB podem incluir febre, dificuldade respiratória, letargia, irritabilidade, recusa alimentar e coloração da pele anormal. Se a placenta não for preparada corretamente, esta pode conter, ainda, resíduos de produtos químicos, nomeadamente de medicamentos administrados durante o parto.

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Fig.2. Dar vida à vida – Placentofagia

Por estas razões, muitos profissionais de saúde desaconselham a prática da placentofagia. Se está interessada em consumir a sua placenta após o parto, é importante discutir o tema com o seu médico, parteira ou doula para avaliar os riscos e benefícios específicos na sua situação. Se, posteriormente, optar por consumi-la, certifique-se de que será preparada corretamente por um profissional qualificado, que assuma os cuidados necessários para reduzir o risco de contaminação.

No entanto, há ainda quem opte por enterrar a placenta num local especial, como forma de  simbolizar o vínculo com o seu bebé, ou então, doá-la para pesquisa médica ou aplicação em produtos cosméticos.

Dar vida à vida… Uma nova função para a placenta

Esta prática é conhecida como “plantação da placenta” ou “plantação da árvore da vida” e, tem sido aplicada em muitas culturas antigas, como os Maoris da Nova Zelândia, os Aborígenes australianos e os Havaianos.

Deepak Chopra sugere, a nosso ver, uma belíssimima ideia: plantar uma árvore ou arbusto que dê flor, que simbolize o crescimento do seu bebé in-útero, para que após o seu nascimento, juntos possam cuidar desta. Seguindo esta sugestão, porque não “Dar vida à vida?”. Dar uma nova função à placenta, utilizando-a como fertilizante de uma planta que possa representar a sua conexão com o seu bebé. Esta ideia não é nossa. Esta ideia tem gerações, representa um passado de culturas bem consistentes, mas sempre com o mesmo motivo… “simbolizar a conexão entre mãe e bebé”, porque na verdade, embora o cordão umbilical seja cortado, ou mumifique até se libertar da placenta (parto de Lótus), mãe e filho jamais serão separados. Durante alguns meses, ou até anos, esta díade é cinergeticamente dependente. Não tem que ser em todas as famílias mas, de um modo geral, é.

Na cultura Maori, a placenta é chamada de “whenua”, que significa “terra”. Os Maori acreditam que a placenta é o vínculo entre o bebé e a terra, e que esta deve ser devolvida à natureza para que a criança tenha uma conexão com a terra durante toda a sua vida. O povo indígena da Nova Zelândia costuma plantar uma árvore nativa em cima da placenta para simbolizar o crescimento do bebé junto com esta.

Os aborígenes australianos têm uma crença semelhante. Eles acreditam que a placenta é um espírito protetor do bebé e que deve ser enterrada num local especial. Como forma de simbolizar o crescimento deste, os pais também plantam uma árvore ao lado da sua placenta.

Envolvidos por crenças semelhantes, também os Havaianos acreditam que a placenta é sagrada e que deve ser enterrada num local especial. Neste caso, os pais optam por uma árvore frutífera que simbolizará o amor e a fertilidade.

O significado simbólico atribuído à placenta tem vindo a ocupar um lugar de destaque entre a cultura ocidental moderna, a legislação também tem vindo a criar condições para a sua  concretização, falta apenas escolher o local por si considerado apropriado e a planta que simbolizará o crescimento e desenvolvimento do seu bebé ao longo do tempo.

Existem muitas plantas que podem ser associadas à família, mas uma das mais comuns é a árvore genealógica (Araucaria heterophylla), também conhecida como pinheiro-de-norfolk. Esta árvore é conhecida pela sua forma simétrica e elegante, com ramos que crescem em ângulos precisos e folhas pontiagudas que formam espirais.

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Fig.3. Árvore genealógica (Araucaria heterophylla) que pode representar a longevidade e a estabilidade da família.

A árvore genealógica é frequentemente usada como um símbolo da família, pois assim como uma árvore genealógica humana, ela representa a conexão entre as gerações. Cada ramo da árvore representa uma pessoa da família, e as folhas representam as suas histórias e realizações individuais. Juntas, essas histórias e realizações formam a história da família, que pode ser transmitida de geração em geração.

Acrescendo a estas características carregadas de simbolismo soma-se o facto de esta planta poder ser cultivada num vaso ou plantada no jardim da sua casa, tornando-se um símbolo físico da conexão familiar. É uma planta resistente, de crescimento lento e pode viver por muitas décadas, o que a torna uma escolha adequada para representar a longevidade e a estabilidade da família.

Já reparou que bonita homenagem pode ser feita ao “apêndice” mais desvalorizado da cultura ocidental? Pense com carinho, decida em família e tome a sua decisão consciente das infindáveis possibilidades que pode dar à sua Placenta. Se desejar, partilhe connosco a sua história ou outras alternativas de destino a dar à “Árvore da Vida”.

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